21.6.07

O livre arbítrio

O livre arbítrio não existe. Trata-se de uma idealização humana para tornar possível o jogo da ética.

Aristóteles já dizia que o homem é um animal político porque almeja viver na pólis(cidade). Por outras palavras: o homem é um animal social, é feliz quando está em uma comunidade.

E em comunidade, cada integrante tem seus atos e omissões avaliados pelos demais membros.

Com o tempo, a comunidade estabelece valores para as ações e omissões de seus membros.

E, para que a comunidade julgue determinado membro, ela supõe que ele teve liberdade de escolha entre o valor "bem" e o valor "mal".

O raciocínio condenatório seria: Ele fez isso porque quis, logo deve receber tal reprimenda.

As punições são necessárias para a saúde da comunidade. Porém a justificativa para a punição é falsa.

A nossa vontade e a nossa determinação são o fruto de uma configuração neuronal e química instantânea. Por isso, nem somos capazes de saber o que estaremos pensando daqui a instantes.

Felizes são os indivíduos que apresentam configurações parecidas. São chamados de normais, pois agem conforme valores sociais médios. Os que agem longe dos valores médios são os anormais.

Exemplo: tempo de depressão pela morte do cônjuge:

3 dias-anormal-longe do valor médio

3 meses-normal-perto do valor médio

3 anos-anormal-longe do valor médio

Sobre o experimento mental

"Em filosofia e em física, um experimento mental (da expressão alemã Gedankenexperiment) constitui um raciocínio lógico sobre um experimento não realizável na prática mas cujas conseqüências podem ser exploradas pela imaginação, pela física ou pelas matemáticas. Esses experimentos são utilizados para se compreender aspectos não experimentáveis do Universo."

Gostamos de introduzir experimentos mentais com as expressões: "Vamos supor que...", Vamos fazer de conta que..."

Para saber mais, pressione aqui.

14.6.07

As operações do espírito humano a serviço do conhecimento racional

O espírito humano, para adquirir conhecimento, utiliza a razão desse modo: ele realiza uma seqüência temporal de três operações: a simples apreensão, o juízo e o raciocínio.

A primeira operação. Quando nosso espírito faz ato de simples apreensão, ele se contenta em apreender uma coisa sem nada afirmar ou negar. Esse ato não supõe nenhuma outra operação intelectual antes dele. Apenas as operações dos sentidos(visão, audição, tato, paladar, olfato e o sexto sentido) podem ser anteriores à simples apreensão.

A segunda operação. Após o ato de apreender, o nosso espírito estará apto a julgar(afirmar ou negar, juntar ou separar). Pelo juízo, o espírito declara-se de posse da verdade sobre este ou aquele ponto.

A terceira operação. O raciocínio é a operação mais complexa do nosso espírito. O raciocínio nos leva das coisas que conhecemos para as coisas que ainda não descobrimos ou demonstramos. O raciocínio calcula juízos previamente concebidos com o objetivo de concluir.

Exemplos:

Simples apreensão: "homem", "mortal", "Sócrates".

Juízo: "Todo homem é mortal", "Sócrates é homem".

Raciocínio: Calcula os juízos e conclui: "Logo, Sócrates é mortal".

Post Scriptum:

O sexto sentido indica a posição do corpo em relação ao campo gravitacional. As "pedrinhas" do laririnto rolam sempre para a posição de menor energia potencial e, assim, excitam terminações nervosas dentro do canal. Só quem tem labirintite sabe como faz falta ter um sexto sentido sadio.

29.5.07

O verossímil e o inverossímil

Verossímil significa semelhante à verdade. E o seu contrário significa semelhante ao falso.

Uma narrativa pode parecer verdadeira(verossímil) e ser verdadeira ou falsa.

Ou pode parecer falsa(inverossímil) e ser verdadeira ou falsa.

O interesse sobre o assunto é maior quando temos as seguintes duas combinações:

1-Narrativa verossímil e falsa

2-Narrativa inverossímil e verdadeira

Os mentirosos utilizam a combinação 1 para enganar. Tanto mais bem sucedidos quanto melhor usarem as técnicas de verossimilhança.

Outras pessoas, comprometidas com a verdade, já passaram por apuros ao narrar tão estranhos e bizarros fatos que, de tão fantásticos, não foram acreditados. Apesar de realmente terem ocorrido. Esse é um exemplo da combinação 2.

Outros nomes para narrativas verossímeis: história que convence, história coerente.

Outros nomes para narrativas inverossímeis: história para boi dormir, história sem pé nem cabeça.

17.5.07

À procura da felicidade. Ou por que perambulamos pela crosta terrestre? 0u melhor, por que existimos?

Preliminar 1. Gaia é uma palavra grega que significa grande mãe terra. Ela também é usada para designar um conjunto de hipóteses ecológicas que propõem a reunião das partes vivas (biomassa, indivíduos) com as partes não vivas da Terra. Esse complexo sistema é resumido como um único super organismo.

Preliminar 2. Gibbs foi um proeminente cientista americano do século XIX. Ele estudou a termodinâmica e, sem entrar nos méritos físicos e matemáticos, podemos apertadamente dizer que Gibbs descobriu a seguinte regra:

"Cada sistema procura alcançar o mínimo de energia livre. Seja G=H-TS, onde G é a energia livre de Gibbs , H é a entalpia, T é a temperatura e S é a entropia(medida da desordem). Se a desordem aumenta, S aumenta e G diminui porque tem sinal trocado com S".

Preliminar 3. Chatelier foi um proeminente cientista francês do final do século XIX e do começo do século XX. Ele descobriu uma lei de inércia para sistemas químicos. Muito semelhante à lei de inércia para sistemas mecânicos e descoberta por Isaac Newton. Generalizando a lei da inércia, podemos dizer que os sistemas, quando pertubados, tendem a voltar ao seu antigo estado. Na verdade, os sistemas não gostam de mudanças, eles gostam de permanecer inertes.Exemplo: Uma pessoa faz regime, emagrece, porém o corpo, que já memorizou o antigo peso, tende a engordar novamente(efeito sanfona).

Nessa mesma esteira, podemos afirmar que, havendo mudanças de temperatura, os sistemas tendem a reagir. Isso não quer dizer que eles consigam retornar ao seu estado passado. Mas tentarão. Exemplo: Ao aquecer a água na panela, ela reluta em esquentar. Ela cria inclusive ordem no caos (bolha de água) na tentativa de não se aquecer. Aos 100 C ela pára de esquentar porque a produção de bolhas é enorme (a água ferve!).

Preliminar 4. Ordem na desordem. As coisas nesse mundo tendem sempre à desordem(entropia). Esse fato do cotidiano é óbvio à maioria das pessoas. Porém há um detalhe, fruto da experiência e da reflexão:

"para aumentar a desordem, os sistemas criam naturalmente pontos de ordem. É um sacrifício criar ordem local. Porém a desordem global acaba aumentando quando o sacrifício ocorre."

Agora, podemos usar as informações das preliminares para responder a razão de nossa existência. Vamos lá.

Seja Gaia, o planeta Terra, banhada pela energia solar por bilhões de anos. Ela anseia sempre por diminuir a energia livre de Gibbs. Para isso ocorrer, ela busca sempre aumentar a desordem global na crosta. Com o tempo, a temperatura diminui até permitir a formação de moléculas orgânicas estáveis em Gaia. Nessa faixa de temperatura, Gaia pode criar uma solução de ordem, chamada por nós de vida.

Corolário 1. Podemos inferir que a evolução da vida, de seres menos complexos para seres mais complexos, é dirigida pela eficiência em se dissipar a energia livre de Gibbs.

Metáfora. E cada humano na crosta terrestre é como se fosse uma bolha daquela água que não queria mudar sua temperatura. Mera solução termodinâmica de Gaia.

Em busca da felicidade. Assim, os humanos são desenhados por Gaia para aumentar a desordem. Os prazeres reprodutivos (mais bolhas para Gaia) são recompensados por endorfinas. Adicionalmente, quanto mais os humanos consomem, mais felizes ficam(mais endorfinas nos encéfalos) e mais lixo produzem. E a desordem só aumenta.

Reforçando essa explicação via outro exemplo: Gaia força os humanos a retirar petróleo do fundo do mar(ordem) e dissipá-lo na atmosfera(desordem). Mas de que maneira Gaia faz isso? Ela nos dá prazer, via endorfina, ao desejarmos ter um carro para rodar pela crosta terrestre.

Corolário 2. Podemos inferir que o sistema capitalista mostra-se mais eficiente na produção de desordem do que o sistema comunista. Pois no capitalismo temos a criação de mais pontos de concentração ou de ordem. Esses pontos podem ser sociais(ricos) e econômicos(empresas) . Esses pontos dirigem os recursos humanos e materiais para a máxima eficiência de produção de desordem. Sendo assim, parece que o sucesso do capitalismo frente ao comunismo foi apenas a melhor escolha termodinâmica de Gaia.

Resumindo: Existimos para diminuir a energia livre de Gibbs. Para isso ocorrer, Gaia nos incentiva a buscar a felicidade (liberação de endorfinas em nosso cérebro) via consumo. Nessa busca, geramos mais humanos e mais lixo (produção de desordem).

E daqui a muito tempo, Gaia descartará a solução termodinâmica humana, descartará posteriormente a solução vida. Porque o Sol aquecerá tanto a Terra que não haverá estabilidade de moléculas orgânicas. Nessa situação, Gaia voltará a usar somente soluções físico-químicas para diminuir a energia livre de Gibbs.

1.5.07

A indústria do desespero ou tudo por gotas de endorfinas

O excesso de inteligência, adquirido por nossa espécie durante a evolução, trouxe-nos dois deméritos.

O primeiro demérito foi o estresse causado por não sabermos o que vai acontecer daqui a pouco (medo/curiosidade sobre o futuro).

O segundo demérito foi o estresse causado pelo excesso de informação captado por nossa consciência e a conseqüente dificuldade de construir uma realidade coerente e sem contradições.

Para aliviar essas tensões, nosso corpo produz substâncias chamadas endorfinas. Elas funcionam como calmante natural e nos dão uma sensação de bem estar.

Posso dizer que um indivíduo está feliz quando essas endorfinas banham seu encéfalo. A felicidade seria, então, um banho demorado desses neurotransmissores. Já a carência dessas substâncias produz as depressões.

Assim sendo, podemos dividir as pessoas em grupos, conforme a quantidade de endorfinas, que seus corpos liberam e conforme seus vícios nessas endorfinas. Eis alguns grupos:

Primeiro grupo: pessoas que não se estimulam com endorfinas-são pessoas estóicas, geralmente duras e de vida austera.

Segundo grupo: pessoas que liberam em excesso essas endorfinas-são naturalmente felizes, estão costumeiradamente de bom humor e sorrindo, mesmo que estejam vivendo em completa desgraça.

Terceiro grupo: pessoas que são viciadas em endorfinas-estão sempre em busca da felicidade e usam diversos meios para alcançá-la. Com cada evento positivo que a vida lhes oferece, ficam felizes por pouco tempo!

Quarto grupo: pessoas desesperadas-as circunstâncias da vida não estimulam a liberação de endorfinas ou o corpo naturalmente produz pouca endorfina(são pessoas tristes).

Ora, pessoas em desespero precisam de alívio( liberação de endorfina em seu encéfalo). Assim, por pressão de demanda, surgem os empresários da indústria do desespero.

Podemos defini-los como prestadores de serviços que, por seu labor, ajudam e estimulam seus clientes a liberar essas endorfinas.

Para combater o estresse do futuro, apareceram os prognostigadores. Essas pessoas atuam no ramo das adivinhações: cartomantes, horoscopistas e assemelhados. Ou são cientistas que prevêem eventos futuros de sistemas naturalmente imprognosticáveis.Exemplo: cotação do dólar no final de 2007.

E para combater o segundo demérito (excesso de realidade) apareceram os mercadores de esperança. Dou dois exemplos:

O primeiro exemplo é o governo federal, que explora jogos como a mega-sena.

O segundo exemplo pode ser ilustrado por uma pessoa desesperada que vai a um grêmio religioso pela primeira vez. Lá, expõe seu encéfalo à entoação de mantras. Ocorre ressonância e talvez um desligamento(desmaio). Voltando algumas vezes ao local, essa pessoa acostuma com os estímulos sonoros e não desmaia mais. Nesse local, a pessoa treina introspecção (exercício da fé) e o resultado é a liberação de endorfina. O desespero começa a ceder espaço para um bem estar. Quando esse exercício mental torna-se eficiente para liberar as endorfinas, a pessoa pode declarar que "Deus tocou seu coração". Daí, nada mais justo e reto do que a organização religiosa receber um pagamento pelo seu serviço.

O sucesso dessa indústria é grande porque a maioria das pessoas precisa de estímulo no lobo temporal. Essa região do encéfalo se excita nos atos de fé e provoca a liberação das endorfinas. Afinal, o exercício introspectivo(fé) é menos custoso do que atuar na Realidade para que eventos agradáveis aconteçam.

Exemplo: "Aos de fé, a felicidade ocorrerá após o evento morte".

Ao acreditar nesse exemplo, o pio terá sua cota de endorfina e ficará sereno diante das dificuldades da Realidade. Os marxistas não gostavam desse mecanismo de consolo e combatiam as religiões, alcunhadas de "ópio do povo".

Pois bem, organizando as idéias:

A evolução deu a nossa espécie uma inteligência superior. Porém com dois deméritos.

Para combater esses dois estresses, a humanidade criou a indústria do desespero, formada pelos prognosticadores e pelos mercadores de esperança.

Além disso, o exercício freqüente da introspecção libera endorfinas. Logo, a religiosidade surge naturalmente na nossa espécie.

Corolário: Do excesso de inteligência, surge a religião.

Eticamente falando, esses prestadores de serviço são bons ou ruins para a sociedade. Destaco aqui as religiões tradicionais como bom exemplo social. Além de estimular o lobo temporal de seus fiéis, elas ensinam-lhes ética. A falta de tal solução religiosa pode levar o desesperado ou o hipossuficiente a procurar outros meios para liberar endorfinas. Cito drogas e crime.

Aproveito a ocasião e explico que mentes voltadas para o crime não conseguem adiar prazeres (são viciadas em endorfinas). Exemplo: homem que quer gozar logo, salta a fase da côrte e parte para o estupro.

22.4.07

Física e metafísica

Um editor da Antiguidade chamado Andrômaco de Rodes organizou em uma estante os livros do Aristóteles. Na verdade eram papiros. Nessa estante, após os papiros de física, ele colocou papiros que questionavam o Ser e as causas primeiras das coisas.

A palavra grega física significa natureza e a palavra metafísica significa além da física.

Assim, a palavra metafísica remete à cena em que os papiros do "Ser e das causas primeiras" são arrumados logo após os papiros da "Natureza" na estante desse antigo livreiro.

A palavra metafísica então não tem nada de sofisticado. Originou-se da mera organização de prateleiras!

Porém os questionamentos tratados pela metafísica são de alta indagação. Inclusive, para alguns estudiosos, o opúsculo Substâncias Separadas, de São Tomás de Aquino é o mais alto produto especulativo e metafísico já produzido pelo Ocidente.

Como vencer um debate sem precisar ter razão

Arthur Schopenhauer descreve 38 maneiras de espancar a verdade para glorificar a mentira.

Ao longo do ano, postarei esses ardis.

Para os mais curiosos, uma dica de aquisição: Olavo de Carvalho traduziu essa obra de Schopenhauer, que foi editada pela TOPBOOKS.

A falácia "post hoc ergo propter hoc"

Falácia é um raciocínio errado.

E "post hoc ergo propter hoc" quer dizer: depois disso, logo por causa disso.

Em outras palavras: se um evento sucede ao outro, implica que o primeiro evento é causa do segundo evento.

Exemplificando:

  • Chá de quebra-pedra é bom para cálculos renais. Tomei e dois dias depois expeli a pedra.
  • Anteontem fui mordido por um cão e hoje estou com febre. Só posso estar doente por causa dessa mordida.
  • Toda vez que uso o boné do meu pai, o meu time ganha.

Pelo derradeiro exemplo, vê-se que essa falácia também alicerça várias superstições.

Aproveito a ocasião e descrevo uma falácia assemelhada: "non sequitor" (não se segue, ou "não tem nada a ver"). Uma conclusão nada tem a ver com a premissa.

Exemplificando de novo:

  • Venceremos, pois Deus é bom. Concedamos que Deus exista e que seja bom. Porém Ele não está necessariamente do nosso lado. Eis que os nossos adversários podem dizer a mesma coisa!

Antídoto: Esclareça que fatos sucessivos não formam necessariamente o binômio causa-efeito. Podem ser apenas caso de coincidência.

Fonte de inspiração: http://www.pucrs.br/gpt/falacias.php

O instante

A palavra instante deriva do latim instans, que pode significar: o que aperta, o que insta, o que persegue, iminente, próximo.

Em seu sentido filosófico, o instante pode referir-se à duração muito curta que a consciência capta como um todo.

Tradicionalmente, o instante foi definido como ponto determinado e indivisível da duração.

Para Platão, o instante é a inserção súbita da eternidade no tempo. Assim, ele coloca a dimensão original do instante numa esfera sobrenatural, no mundo das idéias. Porém o seu desdobramento ocorre no mundo físico.

Já Tomás de Aquino afirma que o instante não é parte do tempo. É o indivisível do tempo. No tempo são duas coisas, o passado e o futuro. Ambas são medidas pelo mesmo instante, pois o mesmo instante é princípio do futuro e fim do passado.

E Santo Agostinho entende que o tempo serve para medir o movimento dos corpos.Porém o instante pertence à esfera da eternidade, pois somente nela há um presente incorruptível. Já que o instante seria um presente perfeito.

Este post foi baseado na leitura do artigo " O INSTANTE SEGUNDO SÃO TOMÁS DE AQUINO", escrito por Paulo Faitanin, da Universidade Federal Fluminense.

7.4.07

O axioma e o dogma

Natália Bebiano é uma autora excepcional. Ela escreveu um livro que abordava vários temas, dentre eles um estudo sintético sobre o axioma. Eu o li há dois anos e verdadeiramente tomei um banho de luz.

Comecemos o assunto por uma lavra aristotélica:

'" Nem tudo pode ser provado, já que, de outra maneira, a cadeia de provas seria interminável. Como temos de começar nalgum sítio, começamos com coisas que admitimos, mas que são indemonstráveis."

Considero essa citação digna de ser dita às crianças. Elas costumeiramente encadeiam aos adultos questionamentos recheados de porquês.

Outro momento adequado para invocar essa lavra ocorre quando alunos intrigados pressionam seus mestres com perguntas, que exigem, como resposta, a exibição de causas primeiras.

Mais luz com Natália:

"Axioma significa originalmente dignidade. Atualmente, também significa o que é digno de ser estimado, acreditado ou valorado. Em outras palavras: Axioma é um ponto de partida que, por sua dignidade, deve considerar-se verdadeiro. Uma vez enunciado e entendido, detém em si um imperativo que obriga ao seu assentimento."

Assim, posso inferir que cada ciência tem seu conjunto de axiomas ou "pontos de partida" indemonstráveis.

Porém e contra a indemonstrabilidade, há estudiosos de critérios de verdade que se recusam a predicar os axiomas como verdadeiros. Eles entendem que um sistema lógico-dedutivo pode ser comparado a um jogo em que os axiomas são somente as regras. E, pelo critério da navalha de Ockham, esses estudiosos tendem a estar certos!

E o dogma?

Segundo o Wikipédia:

"Um dogma, no campo filosófico, é uma crença/doutrina imposta, que não admite contestação. No campo religioso é uma verdade divina, revelada e acatada pelos fiéis. No catolicismo os dogmas surgem das Escrituras e da autoridade da Igreja Católica"

Corolário: ciência e fé são fundamentadas em princípios indemonstráveis.

Exemplos de axioma/dogma/regra de jogo:

1-Não matarás

2-Deus criou todas as coisas

Essas duas regras foram aplicadas em 1376 pelo dominicano Nicolau Eymerich em seu "Manual do Inquisidor":

Caso 1:Uma pessoa é declarada herege porque ofendeu a Deus. Logo ela será queimada pois o que a mata é o fogo e não um cristão.

Caso 2:Uma pessoa zombou do Senhor, debochou do Seu amor e rendeu homenagens ao Danado. Logo, há razões suficientes para que essa pessoa e seus herdeiros não usufruam mais das criações divinas. Nada mais reto do que confiscar/expropriar seus bens em favor do Estado ou da Igreja.

19.3.07

ESTÉTICA

Mário Quintana assim encontra o Belo:

“Nada, no mundo, é, por si mesmo, feio.

Inda a mais vil mulher, inda o mais triste poema,

Palpita sempre neles o divino anseio

Da Beleza suprema...”

Estética é uma palavra grega que significa percepção ou sensação. Trata-se de ciência, tornada autônoma da Filosofia desde 1750. Ela estuda o Belo e as Artes.

O poeta Antônio Gedeão se pergunta por que as coisas belas deixam cicatrizes na memoria dos homens e por que motivo são belas? E para quê?

Já a matemática portuguesa Natália Bebiano diz que há humanos que consideram a matemática bela e que Einstein usava a beleza como critério de verdade de suas teorias.

E Poincaré assim disse: " O cientista não estuda a natureza porque tal é útil. Estuda-a porque tem prazer nisso; e tem prazer nisso porque ela é bela. Se a natureza não fosse bela, não valeria a pena o conhecimento, nem a vida valeria a pena ser vivida..."

Novamente Natália Bebiano: " A arte existe, não para ser útil, mas para a honra do espírito humano. Para nos reconciliar com os limites da nossa precariedade: a morte, o mal, a guerra...Até ao impossível."

O autor espera ter despertado o interesse do leitor sobre o tema estética.

12.2.07

Contarei sua história muito tempo depois de você desaparecer

Aristóteles, nascido em Estagira em 384 a. C., era filho do médico Nicômaco. Seu pai tratava do rei macedônio Amintas, avô de Alexandre, o Grande.

Aos 16 ou 17 anos, foi estudar na Academia de Platâo, apesar do aviso que havia na porta dessa escola: " Só adentre quem souber Geometria".

Mais tarde, saiu da academia e foi preceptor de Alexandre, o Grande.

De volta a Atenas, criou sua própria escola no Monte Licínio, que ficou conhecida como Liceu. Lá, ensinava aos discípulos, caminhando ao ar livre ou sob as árvores do monte. Seus alunos foram alcunhados de peripatéticos (os que passeiam).

Para os alunos da escola, havia a divulgação do conhecimento esotérico (modernamente seriam as monografias, teses, papers).

E para o público em geral, havia a divulgação do conhecimento exotérico (modernamente seriam as revistas de divulgação científica).

Por problemas políticos, abandonou sua escola em 323 a. C. e faleceu um ano depois.

Roma locuta, causa finita est.

Roma falou, a causa está terminada.

Os argumentos de autoridade devem servir como ponto de partida das discussões. As opiniões de doutores, de especialistas, de pessoas com muita experiência são úteis demais para formarmos nossas primeiras impressões sobre matéria nova. Ao contemplarmos um novo problema, de imediato, podemos consultar autoridades no assunto. Enfeitamos nossas premissas com essas consultas e, por dialética ou por silogismo, avançamos o cálculo de predicados.

Exemplo de cálculo de predicados:

  • Todo homem é mortal.
  • Sócrates é homem.
  • Logo, Sócrates é mortal.

Infelizmente, por despreparo intelectual, muitos são levados e mantidos em erro por um argumento falacioso chamado de " falácia de autoridade".Essa falácia engana nosso juízo com a seguinte fórmula sugestiva:

" A explicação/o procedimento para tal situação só pode ser assim , já que essa é a opinião do doutor Tal. Além disso, ele sabe o que diz e, se não estivesse correto, não estaria onde hoje está! E quem é você para opinar o contrário?"

Essa fórmula carrega o conceito de autoridade e o conceito de "instância infalível". E é tão poderosa, que a pessoa nem raciocina mais. Ela fica convencida por um argumento aparentemente irresistível.

Portanto e por amor à verdade, peço ao leitor que faça o bom uso dos argumentos de autoridade. Use-os no início das discussões e não com o objetivo de encerrá-las.