1.5.07

A indústria do desespero ou tudo por gotas de endorfinas

O excesso de inteligência, adquirido por nossa espécie durante a evolução, trouxe-nos dois deméritos.

O primeiro demérito foi o estresse causado por não sabermos o que vai acontecer daqui a pouco (medo/curiosidade sobre o futuro).

O segundo demérito foi o estresse causado pelo excesso de informação captado por nossa consciência e a conseqüente dificuldade de construir uma realidade coerente e sem contradições.

Para aliviar essas tensões, nosso corpo produz substâncias chamadas endorfinas. Elas funcionam como calmante natural e nos dão uma sensação de bem estar.

Posso dizer que um indivíduo está feliz quando essas endorfinas banham seu encéfalo. A felicidade seria, então, um banho demorado desses neurotransmissores. Já a carência dessas substâncias produz as depressões.

Assim sendo, podemos dividir as pessoas em grupos, conforme a quantidade de endorfinas, que seus corpos liberam e conforme seus vícios nessas endorfinas. Eis alguns grupos:

Primeiro grupo: pessoas que não se estimulam com endorfinas-são pessoas estóicas, geralmente duras e de vida austera.

Segundo grupo: pessoas que liberam em excesso essas endorfinas-são naturalmente felizes, estão costumeiradamente de bom humor e sorrindo, mesmo que estejam vivendo em completa desgraça.

Terceiro grupo: pessoas que são viciadas em endorfinas-estão sempre em busca da felicidade e usam diversos meios para alcançá-la. Com cada evento positivo que a vida lhes oferece, ficam felizes por pouco tempo!

Quarto grupo: pessoas desesperadas-as circunstâncias da vida não estimulam a liberação de endorfinas ou o corpo naturalmente produz pouca endorfina(são pessoas tristes).

Ora, pessoas em desespero precisam de alívio( liberação de endorfina em seu encéfalo). Assim, por pressão de demanda, surgem os empresários da indústria do desespero.

Podemos defini-los como prestadores de serviços que, por seu labor, ajudam e estimulam seus clientes a liberar essas endorfinas.

Para combater o estresse do futuro, apareceram os prognostigadores. Essas pessoas atuam no ramo das adivinhações: cartomantes, horoscopistas e assemelhados. Ou são cientistas que prevêem eventos futuros de sistemas naturalmente imprognosticáveis.Exemplo: cotação do dólar no final de 2007.

E para combater o segundo demérito (excesso de realidade) apareceram os mercadores de esperança. Dou dois exemplos:

O primeiro exemplo é o governo federal, que explora jogos como a mega-sena.

O segundo exemplo pode ser ilustrado por uma pessoa desesperada que vai a um grêmio religioso pela primeira vez. Lá, expõe seu encéfalo à entoação de mantras. Ocorre ressonância e talvez um desligamento(desmaio). Voltando algumas vezes ao local, essa pessoa acostuma com os estímulos sonoros e não desmaia mais. Nesse local, a pessoa treina introspecção (exercício da fé) e o resultado é a liberação de endorfina. O desespero começa a ceder espaço para um bem estar. Quando esse exercício mental torna-se eficiente para liberar as endorfinas, a pessoa pode declarar que "Deus tocou seu coração". Daí, nada mais justo e reto do que a organização religiosa receber um pagamento pelo seu serviço.

O sucesso dessa indústria é grande porque a maioria das pessoas precisa de estímulo no lobo temporal. Essa região do encéfalo se excita nos atos de fé e provoca a liberação das endorfinas. Afinal, o exercício introspectivo(fé) é menos custoso do que atuar na Realidade para que eventos agradáveis aconteçam.

Exemplo: "Aos de fé, a felicidade ocorrerá após o evento morte".

Ao acreditar nesse exemplo, o pio terá sua cota de endorfina e ficará sereno diante das dificuldades da Realidade. Os marxistas não gostavam desse mecanismo de consolo e combatiam as religiões, alcunhadas de "ópio do povo".

Pois bem, organizando as idéias:

A evolução deu a nossa espécie uma inteligência superior. Porém com dois deméritos.

Para combater esses dois estresses, a humanidade criou a indústria do desespero, formada pelos prognosticadores e pelos mercadores de esperança.

Além disso, o exercício freqüente da introspecção libera endorfinas. Logo, a religiosidade surge naturalmente na nossa espécie.

Corolário: Do excesso de inteligência, surge a religião.

Eticamente falando, esses prestadores de serviço são bons ou ruins para a sociedade. Destaco aqui as religiões tradicionais como bom exemplo social. Além de estimular o lobo temporal de seus fiéis, elas ensinam-lhes ética. A falta de tal solução religiosa pode levar o desesperado ou o hipossuficiente a procurar outros meios para liberar endorfinas. Cito drogas e crime.

Aproveito a ocasião e explico que mentes voltadas para o crime não conseguem adiar prazeres (são viciadas em endorfinas). Exemplo: homem que quer gozar logo, salta a fase da côrte e parte para o estupro.

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