29.5.07

O verossímil e o inverossímil

Verossímil significa semelhante à verdade. E o seu contrário significa semelhante ao falso.

Uma narrativa pode parecer verdadeira(verossímil) e ser verdadeira ou falsa.

Ou pode parecer falsa(inverossímil) e ser verdadeira ou falsa.

O interesse sobre o assunto é maior quando temos as seguintes duas combinações:

1-Narrativa verossímil e falsa

2-Narrativa inverossímil e verdadeira

Os mentirosos utilizam a combinação 1 para enganar. Tanto mais bem sucedidos quanto melhor usarem as técnicas de verossimilhança.

Outras pessoas, comprometidas com a verdade, já passaram por apuros ao narrar tão estranhos e bizarros fatos que, de tão fantásticos, não foram acreditados. Apesar de realmente terem ocorrido. Esse é um exemplo da combinação 2.

Outros nomes para narrativas verossímeis: história que convence, história coerente.

Outros nomes para narrativas inverossímeis: história para boi dormir, história sem pé nem cabeça.

17.5.07

À procura da felicidade. Ou por que perambulamos pela crosta terrestre? 0u melhor, por que existimos?

Preliminar 1. Gaia é uma palavra grega que significa grande mãe terra. Ela também é usada para designar um conjunto de hipóteses ecológicas que propõem a reunião das partes vivas (biomassa, indivíduos) com as partes não vivas da Terra. Esse complexo sistema é resumido como um único super organismo.

Preliminar 2. Gibbs foi um proeminente cientista americano do século XIX. Ele estudou a termodinâmica e, sem entrar nos méritos físicos e matemáticos, podemos apertadamente dizer que Gibbs descobriu a seguinte regra:

"Cada sistema procura alcançar o mínimo de energia livre. Seja G=H-TS, onde G é a energia livre de Gibbs , H é a entalpia, T é a temperatura e S é a entropia(medida da desordem). Se a desordem aumenta, S aumenta e G diminui porque tem sinal trocado com S".

Preliminar 3. Chatelier foi um proeminente cientista francês do final do século XIX e do começo do século XX. Ele descobriu uma lei de inércia para sistemas químicos. Muito semelhante à lei de inércia para sistemas mecânicos e descoberta por Isaac Newton. Generalizando a lei da inércia, podemos dizer que os sistemas, quando pertubados, tendem a voltar ao seu antigo estado. Na verdade, os sistemas não gostam de mudanças, eles gostam de permanecer inertes.Exemplo: Uma pessoa faz regime, emagrece, porém o corpo, que já memorizou o antigo peso, tende a engordar novamente(efeito sanfona).

Nessa mesma esteira, podemos afirmar que, havendo mudanças de temperatura, os sistemas tendem a reagir. Isso não quer dizer que eles consigam retornar ao seu estado passado. Mas tentarão. Exemplo: Ao aquecer a água na panela, ela reluta em esquentar. Ela cria inclusive ordem no caos (bolha de água) na tentativa de não se aquecer. Aos 100 C ela pára de esquentar porque a produção de bolhas é enorme (a água ferve!).

Preliminar 4. Ordem na desordem. As coisas nesse mundo tendem sempre à desordem(entropia). Esse fato do cotidiano é óbvio à maioria das pessoas. Porém há um detalhe, fruto da experiência e da reflexão:

"para aumentar a desordem, os sistemas criam naturalmente pontos de ordem. É um sacrifício criar ordem local. Porém a desordem global acaba aumentando quando o sacrifício ocorre."

Agora, podemos usar as informações das preliminares para responder a razão de nossa existência. Vamos lá.

Seja Gaia, o planeta Terra, banhada pela energia solar por bilhões de anos. Ela anseia sempre por diminuir a energia livre de Gibbs. Para isso ocorrer, ela busca sempre aumentar a desordem global na crosta. Com o tempo, a temperatura diminui até permitir a formação de moléculas orgânicas estáveis em Gaia. Nessa faixa de temperatura, Gaia pode criar uma solução de ordem, chamada por nós de vida.

Corolário 1. Podemos inferir que a evolução da vida, de seres menos complexos para seres mais complexos, é dirigida pela eficiência em se dissipar a energia livre de Gibbs.

Metáfora. E cada humano na crosta terrestre é como se fosse uma bolha daquela água que não queria mudar sua temperatura. Mera solução termodinâmica de Gaia.

Em busca da felicidade. Assim, os humanos são desenhados por Gaia para aumentar a desordem. Os prazeres reprodutivos (mais bolhas para Gaia) são recompensados por endorfinas. Adicionalmente, quanto mais os humanos consomem, mais felizes ficam(mais endorfinas nos encéfalos) e mais lixo produzem. E a desordem só aumenta.

Reforçando essa explicação via outro exemplo: Gaia força os humanos a retirar petróleo do fundo do mar(ordem) e dissipá-lo na atmosfera(desordem). Mas de que maneira Gaia faz isso? Ela nos dá prazer, via endorfina, ao desejarmos ter um carro para rodar pela crosta terrestre.

Corolário 2. Podemos inferir que o sistema capitalista mostra-se mais eficiente na produção de desordem do que o sistema comunista. Pois no capitalismo temos a criação de mais pontos de concentração ou de ordem. Esses pontos podem ser sociais(ricos) e econômicos(empresas) . Esses pontos dirigem os recursos humanos e materiais para a máxima eficiência de produção de desordem. Sendo assim, parece que o sucesso do capitalismo frente ao comunismo foi apenas a melhor escolha termodinâmica de Gaia.

Resumindo: Existimos para diminuir a energia livre de Gibbs. Para isso ocorrer, Gaia nos incentiva a buscar a felicidade (liberação de endorfinas em nosso cérebro) via consumo. Nessa busca, geramos mais humanos e mais lixo (produção de desordem).

E daqui a muito tempo, Gaia descartará a solução termodinâmica humana, descartará posteriormente a solução vida. Porque o Sol aquecerá tanto a Terra que não haverá estabilidade de moléculas orgânicas. Nessa situação, Gaia voltará a usar somente soluções físico-químicas para diminuir a energia livre de Gibbs.

1.5.07

A indústria do desespero ou tudo por gotas de endorfinas

O excesso de inteligência, adquirido por nossa espécie durante a evolução, trouxe-nos dois deméritos.

O primeiro demérito foi o estresse causado por não sabermos o que vai acontecer daqui a pouco (medo/curiosidade sobre o futuro).

O segundo demérito foi o estresse causado pelo excesso de informação captado por nossa consciência e a conseqüente dificuldade de construir uma realidade coerente e sem contradições.

Para aliviar essas tensões, nosso corpo produz substâncias chamadas endorfinas. Elas funcionam como calmante natural e nos dão uma sensação de bem estar.

Posso dizer que um indivíduo está feliz quando essas endorfinas banham seu encéfalo. A felicidade seria, então, um banho demorado desses neurotransmissores. Já a carência dessas substâncias produz as depressões.

Assim sendo, podemos dividir as pessoas em grupos, conforme a quantidade de endorfinas, que seus corpos liberam e conforme seus vícios nessas endorfinas. Eis alguns grupos:

Primeiro grupo: pessoas que não se estimulam com endorfinas-são pessoas estóicas, geralmente duras e de vida austera.

Segundo grupo: pessoas que liberam em excesso essas endorfinas-são naturalmente felizes, estão costumeiradamente de bom humor e sorrindo, mesmo que estejam vivendo em completa desgraça.

Terceiro grupo: pessoas que são viciadas em endorfinas-estão sempre em busca da felicidade e usam diversos meios para alcançá-la. Com cada evento positivo que a vida lhes oferece, ficam felizes por pouco tempo!

Quarto grupo: pessoas desesperadas-as circunstâncias da vida não estimulam a liberação de endorfinas ou o corpo naturalmente produz pouca endorfina(são pessoas tristes).

Ora, pessoas em desespero precisam de alívio( liberação de endorfina em seu encéfalo). Assim, por pressão de demanda, surgem os empresários da indústria do desespero.

Podemos defini-los como prestadores de serviços que, por seu labor, ajudam e estimulam seus clientes a liberar essas endorfinas.

Para combater o estresse do futuro, apareceram os prognostigadores. Essas pessoas atuam no ramo das adivinhações: cartomantes, horoscopistas e assemelhados. Ou são cientistas que prevêem eventos futuros de sistemas naturalmente imprognosticáveis.Exemplo: cotação do dólar no final de 2007.

E para combater o segundo demérito (excesso de realidade) apareceram os mercadores de esperança. Dou dois exemplos:

O primeiro exemplo é o governo federal, que explora jogos como a mega-sena.

O segundo exemplo pode ser ilustrado por uma pessoa desesperada que vai a um grêmio religioso pela primeira vez. Lá, expõe seu encéfalo à entoação de mantras. Ocorre ressonância e talvez um desligamento(desmaio). Voltando algumas vezes ao local, essa pessoa acostuma com os estímulos sonoros e não desmaia mais. Nesse local, a pessoa treina introspecção (exercício da fé) e o resultado é a liberação de endorfina. O desespero começa a ceder espaço para um bem estar. Quando esse exercício mental torna-se eficiente para liberar as endorfinas, a pessoa pode declarar que "Deus tocou seu coração". Daí, nada mais justo e reto do que a organização religiosa receber um pagamento pelo seu serviço.

O sucesso dessa indústria é grande porque a maioria das pessoas precisa de estímulo no lobo temporal. Essa região do encéfalo se excita nos atos de fé e provoca a liberação das endorfinas. Afinal, o exercício introspectivo(fé) é menos custoso do que atuar na Realidade para que eventos agradáveis aconteçam.

Exemplo: "Aos de fé, a felicidade ocorrerá após o evento morte".

Ao acreditar nesse exemplo, o pio terá sua cota de endorfina e ficará sereno diante das dificuldades da Realidade. Os marxistas não gostavam desse mecanismo de consolo e combatiam as religiões, alcunhadas de "ópio do povo".

Pois bem, organizando as idéias:

A evolução deu a nossa espécie uma inteligência superior. Porém com dois deméritos.

Para combater esses dois estresses, a humanidade criou a indústria do desespero, formada pelos prognosticadores e pelos mercadores de esperança.

Além disso, o exercício freqüente da introspecção libera endorfinas. Logo, a religiosidade surge naturalmente na nossa espécie.

Corolário: Do excesso de inteligência, surge a religião.

Eticamente falando, esses prestadores de serviço são bons ou ruins para a sociedade. Destaco aqui as religiões tradicionais como bom exemplo social. Além de estimular o lobo temporal de seus fiéis, elas ensinam-lhes ética. A falta de tal solução religiosa pode levar o desesperado ou o hipossuficiente a procurar outros meios para liberar endorfinas. Cito drogas e crime.

Aproveito a ocasião e explico que mentes voltadas para o crime não conseguem adiar prazeres (são viciadas em endorfinas). Exemplo: homem que quer gozar logo, salta a fase da côrte e parte para o estupro.