22.4.07

Física e metafísica

Um editor da Antiguidade chamado Andrômaco de Rodes organizou em uma estante os livros do Aristóteles. Na verdade eram papiros. Nessa estante, após os papiros de física, ele colocou papiros que questionavam o Ser e as causas primeiras das coisas.

A palavra grega física significa natureza e a palavra metafísica significa além da física.

Assim, a palavra metafísica remete à cena em que os papiros do "Ser e das causas primeiras" são arrumados logo após os papiros da "Natureza" na estante desse antigo livreiro.

A palavra metafísica então não tem nada de sofisticado. Originou-se da mera organização de prateleiras!

Porém os questionamentos tratados pela metafísica são de alta indagação. Inclusive, para alguns estudiosos, o opúsculo Substâncias Separadas, de São Tomás de Aquino é o mais alto produto especulativo e metafísico já produzido pelo Ocidente.

Como vencer um debate sem precisar ter razão

Arthur Schopenhauer descreve 38 maneiras de espancar a verdade para glorificar a mentira.

Ao longo do ano, postarei esses ardis.

Para os mais curiosos, uma dica de aquisição: Olavo de Carvalho traduziu essa obra de Schopenhauer, que foi editada pela TOPBOOKS.

A falácia "post hoc ergo propter hoc"

Falácia é um raciocínio errado.

E "post hoc ergo propter hoc" quer dizer: depois disso, logo por causa disso.

Em outras palavras: se um evento sucede ao outro, implica que o primeiro evento é causa do segundo evento.

Exemplificando:

  • Chá de quebra-pedra é bom para cálculos renais. Tomei e dois dias depois expeli a pedra.
  • Anteontem fui mordido por um cão e hoje estou com febre. Só posso estar doente por causa dessa mordida.
  • Toda vez que uso o boné do meu pai, o meu time ganha.

Pelo derradeiro exemplo, vê-se que essa falácia também alicerça várias superstições.

Aproveito a ocasião e descrevo uma falácia assemelhada: "non sequitor" (não se segue, ou "não tem nada a ver"). Uma conclusão nada tem a ver com a premissa.

Exemplificando de novo:

  • Venceremos, pois Deus é bom. Concedamos que Deus exista e que seja bom. Porém Ele não está necessariamente do nosso lado. Eis que os nossos adversários podem dizer a mesma coisa!

Antídoto: Esclareça que fatos sucessivos não formam necessariamente o binômio causa-efeito. Podem ser apenas caso de coincidência.

Fonte de inspiração: http://www.pucrs.br/gpt/falacias.php

O instante

A palavra instante deriva do latim instans, que pode significar: o que aperta, o que insta, o que persegue, iminente, próximo.

Em seu sentido filosófico, o instante pode referir-se à duração muito curta que a consciência capta como um todo.

Tradicionalmente, o instante foi definido como ponto determinado e indivisível da duração.

Para Platão, o instante é a inserção súbita da eternidade no tempo. Assim, ele coloca a dimensão original do instante numa esfera sobrenatural, no mundo das idéias. Porém o seu desdobramento ocorre no mundo físico.

Já Tomás de Aquino afirma que o instante não é parte do tempo. É o indivisível do tempo. No tempo são duas coisas, o passado e o futuro. Ambas são medidas pelo mesmo instante, pois o mesmo instante é princípio do futuro e fim do passado.

E Santo Agostinho entende que o tempo serve para medir o movimento dos corpos.Porém o instante pertence à esfera da eternidade, pois somente nela há um presente incorruptível. Já que o instante seria um presente perfeito.

Este post foi baseado na leitura do artigo " O INSTANTE SEGUNDO SÃO TOMÁS DE AQUINO", escrito por Paulo Faitanin, da Universidade Federal Fluminense.

7.4.07

O axioma e o dogma

Natália Bebiano é uma autora excepcional. Ela escreveu um livro que abordava vários temas, dentre eles um estudo sintético sobre o axioma. Eu o li há dois anos e verdadeiramente tomei um banho de luz.

Comecemos o assunto por uma lavra aristotélica:

'" Nem tudo pode ser provado, já que, de outra maneira, a cadeia de provas seria interminável. Como temos de começar nalgum sítio, começamos com coisas que admitimos, mas que são indemonstráveis."

Considero essa citação digna de ser dita às crianças. Elas costumeiramente encadeiam aos adultos questionamentos recheados de porquês.

Outro momento adequado para invocar essa lavra ocorre quando alunos intrigados pressionam seus mestres com perguntas, que exigem, como resposta, a exibição de causas primeiras.

Mais luz com Natália:

"Axioma significa originalmente dignidade. Atualmente, também significa o que é digno de ser estimado, acreditado ou valorado. Em outras palavras: Axioma é um ponto de partida que, por sua dignidade, deve considerar-se verdadeiro. Uma vez enunciado e entendido, detém em si um imperativo que obriga ao seu assentimento."

Assim, posso inferir que cada ciência tem seu conjunto de axiomas ou "pontos de partida" indemonstráveis.

Porém e contra a indemonstrabilidade, há estudiosos de critérios de verdade que se recusam a predicar os axiomas como verdadeiros. Eles entendem que um sistema lógico-dedutivo pode ser comparado a um jogo em que os axiomas são somente as regras. E, pelo critério da navalha de Ockham, esses estudiosos tendem a estar certos!

E o dogma?

Segundo o Wikipédia:

"Um dogma, no campo filosófico, é uma crença/doutrina imposta, que não admite contestação. No campo religioso é uma verdade divina, revelada e acatada pelos fiéis. No catolicismo os dogmas surgem das Escrituras e da autoridade da Igreja Católica"

Corolário: ciência e fé são fundamentadas em princípios indemonstráveis.

Exemplos de axioma/dogma/regra de jogo:

1-Não matarás

2-Deus criou todas as coisas

Essas duas regras foram aplicadas em 1376 pelo dominicano Nicolau Eymerich em seu "Manual do Inquisidor":

Caso 1:Uma pessoa é declarada herege porque ofendeu a Deus. Logo ela será queimada pois o que a mata é o fogo e não um cristão.

Caso 2:Uma pessoa zombou do Senhor, debochou do Seu amor e rendeu homenagens ao Danado. Logo, há razões suficientes para que essa pessoa e seus herdeiros não usufruam mais das criações divinas. Nada mais reto do que confiscar/expropriar seus bens em favor do Estado ou da Igreja.